O fracasso do motim de 2023, que tentou derrubar a cúpula militar da Rússia, parecia sinalizar o fim do Grupo Wagner, mas, um ano e meio depois, a organização paramilitar se repaginou e segue expandindo suas atividades, especialmente na África. A facção, agora conhecida como “Africa Corps”, tem crescido no Sahel, região marcada por instabilidade e disputas entre potências ocidentais e russas. A mudança de nome remete à Afrika Korps, força nazista da Segunda Guerra Mundial, e ocorre após os mercenários serem incorporados ao Ministério da Defesa russo, uma das consequências do motim frustrado.
O Grupo Wagner, que atuava na África desde 2017, agora intensifica suas operações sob a bandeira do governo russo. Em janeiro de 2023, o grupo enviou 100 combatentes para Burkina Fasso, visando proteger o líder do país, Ibrahim Traoré, após um golpe de Estado. O país, que sempre evitou intervenções estrangeiras, passou a ver os mercenários com menos foco comercial após a morte do líder do Wagner, Ievguêni Prigojin.
Especialistas apontam que as operações no continente africano ajudam a financiar a guerra na Ucrânia, com a extração de ouro e outros recursos minerais. Em 2023, o Kremlin havia extraído cerca de US$ 2,5 bilhões em ouro da África. Combatentes russos assumiram, por exemplo, o controle da mina de ouro de Intahaka, no Mali, gerando ainda mais dependência da Rússia na região. As violações dos direitos humanos são frequentes, como em massacres de civis em Moura, no Mali, e outras atrocidades em países como República Centro-Africana e Níger.
A crescente presença de mercenários russos no Sahel é vista como parte de uma estratégia mais ampla de Moscou para afirmar sua influência no continente, especialmente após o fracasso da França em combater o jihadismo na região. A crise no Sahel se agrava, com autocracias locais utilizando a luta contra o terrorismo como justificativa para exterminar minorias étnicas, enquanto potências externas, como a Rússia, buscam aproveitar a instabilidade para ampliar seu controle.