Resido no município de Mari há cerca de 50 anos (dos meus 63
anos vividos) e acompanho a cena política desde 1976 quando participei, de
longe, da campanha eleitoral (o prefeito eleito foi o saudoso José Paulo de
França). Na eleição seguinte, em 1982, eu já participei de forma mais efetiva
(o candidato eleito foi o Dr. Adinaldo Pontes – também de saudosa memória) e eu
até contribui fazendo uso do microfone e “arranhando” um violão em cima do
caminhão-comício.
Depois vieram as eleições de 1987, 1991, 1996. Neste período
fiquei bastante afastado da política local – por estar constituindo família,
trabalhando e estudando em Guarabira. E voltei à cena política no município no
ano 2000, quando assumi a direção da Rádio Comunitária Araçá FM, no final
daquele ano como membro de uma Comissão
Provisória – que havia recebido a missão de organizar a eleição da emissora num
prazo de 90 dias e, em janeiro de 2001, foi eleito diretor presidente da Araçá
FM que, a partir daí, fui jogado involuntariamente nos meandros da política
mariense, visto o desejo obsessivo do prefeito à época (Marcos Martins – 2001 -
2008) em manter o domínio absoluto sobre a emissora comunitária. Vale ressaltar
que a época a família Martins mantinha o controle político desde o hospital
Santa Cecília até o cemitério local – ou seja: do nascimento até a morte do
cidadão mariense. Explico: o patriarca era (e é desde 1963 até o presente
momento) presidente do sindicato dos trabalhadores rurais e era chefe do
Legislativo (presidente da Câmara Municipal), o filho mais velho era o chefe do
Executivo municipal, o irmão (de saudosa memória) era o chefe do cofre da
prefeitura (tesoureiro), a irmã era secretaria de Saúde do município; além de
manter muitos outros familiares no segundo escalão do governo municipal, e com
muita influência nos cargos comissionado do governo do Estado! Inclusive o
patriarca da família, que além de presidente do sindicado e presidente da
Câmara Municipal mantinha um emprego no governo do Estado, como servidor do
Centro Social Urbano localizado no vizinho município de Sapé. Além do mais: a
família Martins mantinha influência na igreja católica, nas associações
comunitárias urbanas e rurais e noutros grupos informais. A rádio Comunitária Araçá
FM era o único “obstáculo” para que o círculo do domínio político total fosse
fechado pelos Martins. E foi exatamente conta aquele domínio absoluto que reagi
firmemente!
Após ao amplo preâmbulo, passo a tratar dos temas que deram
título ao presente artigo.
DEMOCRACIA é um regime político em que os cidadãos no
aspecto dos direitos políticos participam igualmente — diretamente ou através
de representantes eleitos — na proposta, no desenvolvimento e na criação de
leis, exercendo o poder da governança através do sufrágio universal.
POLÍTICA é a ciência moral normativa do governo e da
sociedade civil; é o conhecimento e o estudo das relações de regularidade e
concordância dos fatos com os motivos que inspiram as lutas em torno do poder
do Estado e entre o Estado e o povo.
COERÊNCIA é a característica de algo que tem lógica e
coesão, ou seja, quando um conjunto de ideias apresenta nexo e uniformidade.
INGRATIDÃO é a característica da pessoa ingrata; qualidade
de quem não reconhece o bem que lhe foi oferecido nem a ajuda que lhe foi
concedida; ausência de gratidão.
O ÓDIO também chamado de execração, raiva, rancor e ira, é
um intenso de raiva e aversão. Traduz-se na forma de antipatia, aversão,
desgosto, rancor, fúria, inimizade ou repulsa contra uma pessoa ou algo, assim
como o desejo de evitar, limitar ou destruir. O ódio pode se basear no medo,
justificado ou não. É descrito com frequência como o contrário do amor ou da
amizade.
A POLÍTICA brasileira vem tomando contornos que não coadunam
com a DEMOCRACIA, afastando-se da COERÊNCIA, da GRADITÃO e andando de braços e
abraços com o ÓDIO! Como está definido no conceito da Democracia, a
participação livre do cidadão em busca dos seus direitos através da sua
participação político eleitoral é o cerne do regime democrático! No entanto, o
que se tem presenciado na cena política do nosso país é o digladiar entre os
políticos diretamente e com reflexo e consequências danosas à população em geral.
A Política como arte do diálogo, da articulação e de proposituras vem dando
lugar a violência, a cizânia e as mentiras (fake news).
E o que comumente ocorre no país termina por ser replicado
num pequenino município como o nosso querido Mari.
Uma eleição nunca é igual a outra, obviamente! No entanto, a
eleição do ano da graça de 2024 tomou contorno inimagináveis mesmo para àquelas
pessoas que são experts em POLÍTICA PARTIDÁRIA. Isto porque desde 2012 dois
grupos políticos se digladiam de forma virulenta; “afastando” outros atores que
buscam atuar na política mariense como protagonistas. E isso não é saudável à
DEMOCRACIA!
Ainda no ano de 2023, em virtude da não possibilidade de o
atual prefeito poder concorrer a um novo mandato, começou a surgir movimentos e
articulações políticas com foco numa nova força político partidária – a
terceira via que aos poucos passou a se auto nominar “A Nova Via”. Essa nova
expressão política começou a jogar luzes e gerar esperança em muitas pessoas
que buscavam construir um novo caminho e um nova gestão pública para o nosso
município. As pessoas estão ficando cansadas de um pigue pongue político que
vem sendo saturado pelo tempo¹.
No entanto, a ‘nova via’ envelheceu rápido demais e o pior:
foi contaminada pelas mesmas “bactérias da mosca azul da política partidária”,
ou seja: a incoerência, a ingratidão e o ódio, além da soberba e do sentimento
de vingança. E como diz o adágio popular: o ‘ódio e a vingança são venenos que
se tomam, na esperança que o outro morra’.
E miseravelmente o que se presenciou nos últimos dias que
antecederam a eleição municipal foi um rosário de incoerência, ódio, vingança,
patifaria, mentiras, preconceito, misoginia e covardia. E nada disso contribuem
com a DEMOCRACIA e a POLITICA. E tão pouco contribuem com o crescimento da
consciência cidadã – e sem CIDADANIA plena não há DEMOCRACIA! Muito pelo
contrário, arrasta a todos nós para o lamaçal da politicalha!
O que de novo foi apresentado pela “nova via? Nada. Além de
incoerência, cizânia e vingança? O perdão também surgiu numa brecha do
obscurantismo – o perdão é um sentimento só alcançado pelas pessoas que têm
grandeza e nobreza! Explico logo o motivo da palavra PERDÃO que surgiu no texto
agora. Me reporto a grandeza e a nobreza da candidata (que foi tornada inapta
por ação de terceiros) Karina Melo. Ela foi ultrajada e humilhada durante o
processo eleitoral ocorrido em 2020; porém diante do ocorrido dentro seu
próprio grupo, ela teve a GRANDEZA (atitude reservada a poucos) de mesmo,
sabendo da chuvarada de críticas que iria sofrer, decidiu por fazer uma aliança
estratégica e momentânea com um grupo opositor a candidatura dela para evitar
um mal maior. A atitude de Karina Melo é cheia de grandeza e sabedoria. “A
maior prova de amor não é aquela que se é capaz de se dar a própria vida por um
amigo, mas quem faz isso pelo inimigo”! E Karina fez isso! Um gesto de grandeza
deve ser exaltado em qualquer situação; mas quando ocorre na politica
partidária é preciso ser elevada ao mais alto nível de grandeza e nobreza.
Quando disse que foi pra ‘evitar um mal maior’ me refiro ao
histórico do ex gestor e candidato ao Executivo municipal mariense. Aquele
senhor foi prefeito eleito por três vezes para gerir os destinos do nosso povo,
no entanto, não fez uma única obra estruturante em suas gestões; não há uma
única iniciativa que visasse o bem comum, a geração de trabalho e renda,
melhoria na saúde, na educação, lazer, no esporte, na assistência social; em
nenhuma política pública; nem na cidade e nem na zona rural. O que sobrou em
alta escala foram denuncias contra a gestão dele; processos e até condenação
judicial pelos maus feitos dele como gestor municipal, inclusive, a condenação
que gerou a INEGIBILIDADE no atual peito eleitoral. E qual foi o crime cometido
por ele? Falta de transparência na gestão dos recursos públicos. Votar no ex
gestor municipal seria autoriza-lo a cometer os mesmos ilícitos que cometera
anteriormente.
Ademais, o ex gestor era (deve continuar a ser) autoritário
e perseguidor de marca maior, e eu sei do que estou falando – sofri muito na
minha própria pele!
Quando vi e ouvi
alguns arautos da moral, defensores da boa pratica política, do respeito ao
erário publico e de uma gestão exitosa, inclusiva (para os menos favorecidos) e
transparente eu até tomei um susto porque comecei a perceber que tais atitudes
havia nada de meritória ou de sensatez. Aí comecei a acreditar que a DEMOCRACIA
e a POLITICA de algumas pessoas estavam sendo movidas pela incoerência, a
vingança, o preconceito, a misoginia a ingratidão e o ódio. Sentimentos estes
que jamais deveria tomar lugar na DEMOCRACIA e na POLÍTICA.
A você Karina Lins de Melo a minha admiração e respeito por
ter sido um feixe de luz e de sensatez em plena escuridão!
¹A família Martins
está atuando na política partidária de Mari, diretamente, desde 1976; e a
família Gomes desde 1982.
Da Redação
Do Portal Umari
Com Severino Ramo do Nascimento – cidadão mariense e
historiador