Veneziano, que é candidato a governador pelo MDB, se apresenta como “o candidato de Lula” na Paraíba valendo-se da aliança que fez e que lançou Ricardo Coutinho (PT) como pré-candidato ao Senado, apesar da situação de inelegibilidade que, no momento, o ex-governador exibe. Em paralelo, o senador emedebista tem tido interlocução frequente com Lula para o debate de questões de interesse nacional, dada a sua condição de primeiro vice-presidente do Senado, e, colateralmente, para discussão de demandas que dizem respeito à Paraíba. Mas, apesar de toda a mobilização feita para impedir que João Azevêdo se aproximasse do ex-presidente, isto já ocorreu em eventos nacionais conjuntos que passaram a se realizar entre petistas e socialistas. Afinal, o companheiro de chapa de Lula está plenamente integrado à campanha, inclusive, recebendo delegação de missões especiais a cumprir no sentido de atrair apoios do empresariado e de líderes representativos do centro, amortecendo eventuais resistências ou restrições ao apoio à postulação de Lula.
De resto, o ex-presidente e líder petista, atento à paroquialidade de conflitos políticos entre grupos ou facções nos Estados, já deixou claro que seu projeto constitui concertação de uma “frente ampla” para derrotar o bolsonarismo, com isso comportando apoios distintos de quem estiver interessado no desideratum. Pragmático, Lula sabe que não pode se dar ao luxo de recusar apoios, muito menos de líderes influentes como o governador da Paraíba, que é favorito, a dados de hoje, para se reeleger ao cargo. Em alguns Estados de maior densidade política, o próprio Lula teve a pachorra de costurar soluções de consenso dentro da sua base de apoio, a exemplo do que ocorreu em Pernambuco, onde persuadiu o PT a retirar a pré-candidatura do senador Humberto Costa ao governo e apoiar um postulante do PSB, Danilo Cabral. Esse movimento não impediu que a “frente lulista” em Pernambuco se alargasse com a pré-candidatura de Marília Arraes, agora no Solidariedade, liberada para usar imagens de Lula no seu Guia Eleitoral.
Azevêdo optou por Lula, no quesito da estratégia política, por reconhecer a importância e a qualificação do apoio dele à sua pré-candidatura a mais um mandato de governador na Paraíba, tendo em vista o prestígio de que Lula desfruta junto a parcelas significativas do eleitorado no Estado. No quesito da afinidade pessoal, Azevêdo confessa-se um admirador da trajetória do ex-presidente e tem empatia com ele pelas bandeiras democráticas que abraça. Além do mais, aposta na sensibilidade do ex-mandatário para com as reivindicações de Estados do Nordeste, por ações jde impacto já executadas como a deflagração do projeto de transposição das águas do rio São Francisco. O governador da Paraíba, tal como outros gestores de mais Estados da região, tem sido hostilizado pelo presidente Jair Bolsonaro e está prestes a concluir seu primeiro mandato sem ter tido audiência pessoal com ele. O próprio Bolsonaro, quando pisa na Paraíba, não cumpre agenda conjunta com o chefe do Executivo local, preferindo juntar-se a apoiadores que são caçadores de votos e de vantagens pessoais que eventualmente possam ser oferecidas. Por sorte a Paraíba não tem sido discriminada nas suas pautas e conta com um ministro da Saúde, que, embora da tropa de choque bolsonarista, coloca compromissos com o Estado acima das querelas políticas-partidárias.
Ter um presidente da República aliado nem sempre é garantia de apoio para governadores. Aqui mesmo, na Paraíba, houve um governador, Tarcísio Burity, que foi o primeiro a declarar apoio à candidatura de Fernando Collor de Mello em 1989, dividindo palanque, inclusive, com um senador que rompera com seu governo, o empresário Raimundo Lira. Collor ganhou a disputa com a fama de “caçador de marajás” derrotando Lula em segundo turno, numa das mais dramáticas eleições da história política do país. Já sentado na cadeira do Palácio do Planalto, “puniu” Burity e a Paraíba avalizando o fechamento do Paraiban, o banco estadual de fomento, alvo de liquidação extrajudicial comandada por interventores do Banco Central em operação “manu militari”. A Paraíba ficou perplexa e Burity sentiu-se apunhalado. Os defensores de Azevêdo, quando lembrados do episódio, alegam que Lula é diferente e que ele seria incapaz de prejudicar um Estado ainda em vias de desenvolvimento como a Paraíba. Seja como for, há a expectativa de Azevêdo de que, reeleito, seja bem tratado por Lula, caso este retorne à presidência da República, daí o engajamento pleno que o governador assume na pré-campanha, engolindo sapos e passando por cima de picuinhas de campanário.
Da Redação
Com Nonato Guedes
Créditos: Polêmica Paraíba