Segundo médicos ouvidos pela Folha, esse é o protocolo padrão nesses casos. O boletim médico informou que Lula sofreu “ferimento corto-contuso em região ociptal”, responsável pela percepção visual, e levou pontos na região atrás da cabeça. Ele foi atendido no Hospital Sírio-Libanês de Brasília e segue sendo acompanhado em casa.
O acidente ocorreu na noite de sábado (19) no momento em que Lula e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, finalizavam os preparativos para a viagem à Rússia, onde ele participaria da reunião de cúpula do Brics. Por recomendação médica, a viagem foi cancelada.
O neurocirurgião Luiz Severo, especialista em dor, diz que, de acordo com informações disponíveis, o presidente teve um traumatismo cranioencefálico leve. “Ele não teve perda de consciência, não teve outros sinais de alarme, chegou ao hospital consciente e orientado.”
Segundo ele, o termo “ferimento corto-contuso”, indica também que, além do traumatismo, o presidente sofreu uma contusão cerebral, ou seja, lesão na superfície do encéfalo em que acontece pequenos sangramentos.
“São sangramentos benignos, mas, a partir do momento em que o paciente tem um traumatismo leve e um sangramento intracraniano pequeno, a gente tem que ficar atento para o risco de aumento desse sangramento.”
Severo explica que esse risco é maior em pacientes idosos pela própria fragilidade dos tecidos e dos vasos sanguíneos. Lula tem 78 anos. Pessoas que usam anticoagulantes, como o AAS, também podem ter risco de sangramento aumentado. Não há informação se o presidente faz uso desses medicamentos.
Para o neurologista, as primeiras 72 horas são as mais críticas para o risco de edema no cérebro. “A recomendação é repouso, hidratação e monitoramento.”
De acordo com o boletim médico, após avaliação da equipe médica, Lula foi orientado a evitar viagem aérea de longa distância, podendo exercer suas demais atividades. Um voo do Brasil até a Rússia, onde será realizado o encontro, pode durar 17 horas.
Severo explica que a orientação de não viajar neste momento ocorre pelo risco de aumento de pressão no crânio e de sangramento, além da necessidade de monitorização clínica e radiologia pela equipe médica.
Quedas são frequentes em idosos
Segundo a geriatra e clínica-geral Maisa Kairalla, membro da Câmara Técnica de Geriatria do Cremesp (Conselho Regional de Medicina), quedas como a que Lula sofreu no banheiro são muito frequentes entre idosos. Dados do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia mostram que entre pessoas acima de 80 anos, 40% sofrem quedas todos os anos.
Ela explica que uma das piores consequências das quedas em que há traumatismo craniano é o risco de hematoma subdural, uma condição em que o sangue acumula na região entre o crânio e a superfície cerebral após a ruptura de um vaso sanguíneo.
“Às vezes você bate a cabeça, não sangra no dia, mas isso pode acontecer em até 30 dias, tempo que pode levar um hematoma subdural para se formar”, explica a médica.
Outro risco muito frequente é a fratura de quadril. “Se o presidente não tivesse operado [em razão de uma artrose no quadril] e colocado a prótese, o risco dessa queda poderia ter sido ainda maior porque a região fica muito instável, o que leva os idosos a caírem muito.”
Kairalla diz que a situação vivida pelo presidente serve de alerta para que os idosos façam adaptações em suas casas para prevenir eventuais quedas. “O banheiro é um lugar muito propício para escorrer, fica molhado, cai pasta no chão.”
Da Redação
Do Portal Umari
Com Folha Online
Imagem: Agência Brasil