A Ucrânia surpreendeu a Rússia com novos ataques contra a região de Kursk, no sul do país de Vladimir Putin, levando Moscou a mobilizar reservas e determinar a retirada de civis de vilas próximas à fronteira entre os países rivais.
Do ponto de vista de propaganda, é um gol de Zelenski, que precisa mostrar ao mundo que ainda tem condições de guerrear além dos ataques pontuais com armas de precisão ocidentais contra a Frota do Mar Negro na Crimeia ou o emprego de drones contra alvos na Rússia.
Um espectador potencial é Donald Trump, o republicano que pode voltar à Casa Branca na eleição de novembro e já disse que quer acabar com a guerra “em um dia”, sugerindo concessões territoriais a serem feitas por Kiev. Vídeos percorrem a internet russa com cenas de caminhões incendiados e até aviões de ataque sobrevoando áreas em combate.
Os ataques começaram na terça (6), e foram inicialmente repelidos, segundo o Ministério da Defesa da Rússia e observadores do país. Mas foram renovados na noite, entrando a madrugada desta quarta (7) naquilo que a pasta classificou de “intensa batalha”.
As forças ucranianas estão apoiadas por tanques e veículos blindados. Elas tentam chegar à cidade fronteiriça de Sudja, 530 km a sudoeste de Moscou, mas aparentemente foram bloqueadas. De forma impossível de verificar agora, o ministério disse já ter destruído 50 blindados, incluindo 7 tanques.
Sudja tem valor estratégico: é o ponto final de distribuição de gasodutos russos rumo à Europa. Ainda que o consumo europeu do produto tenha caído a 25% do que era antes da guerra, ele ainda é importante para a economia russa e passa, por meio de um acordo que ainda vale, pela Ucrânia.
De forma típica, Kiev não comentou ainda a operação, esperando seus resultados. Nas incursões de fronteira anteriores, o governo Zelenski colocou a responsabilidade em grupos russos dissidentes baseados em seu país, ainda que os blindados e armas empregados nas ações fossem da Ucrânia.
Seja como for, a Rússia acusou o golpe. Putin disse que “o regime de Kiev lançou uma nova grande provocação” e está “bombardeando indiscriminadamente” a população de Kursk. Até aqui, o foco de preocupações do russo era a região vizinha de Belgorodo, que recebia ataques com mísseis e drones diários.
Putin ordenou a ofensiva sobre Kharkiv (norte) justamente para tentar conter essas ações, tomando terra, mas sem muito sucesso. Agora, os ucranianos atacaram um pouco mais ao norte, partido da região de Sumi, que foi atacada por aviões russos nesta quarta.
O governador interino de Kursk, Alexei Smirnov, disse que a situação está sob controle, mas determinou que vilarejos próximos da fronteira sejam evacuados e que moradores de cidades maiores coloquem proteções nas janelas contra eventuais estilhaços de drones abatidos.
As forças ucranianas divulgaram um vídeo no qual um drone aparentemente derruba um helicóptero de ataque russo Mi-28 sobre Kursk, mas não há georreferenciamento ainda disponível para corroborar a ação, que seria inédita sobre solo da Rússia.