Presidente do Panamá, José Raúl Mulino, afirmou que Maduro poderia usar o território panamenho como uma ponte para ir a um país terceiro.
“Garantias, salvo-condutos e incentivos”. Esta é a oferta que a líder da oposição na Venezuela, María Corina Machado, coloca sobre a mesa para que o ditador Nicolás Maduro, acusado de ter fraudado as eleições presidenciais no país, submeta-se a uma “transição negociada” de poder.
“Estamos determinados a fazer a negociação ir para frente”, disse María Corina em um áudio enviado à agência de notícias AFP -ela tem evitado se expor publicamente por temor de retaliações. “Será um processo de transição complexo, delicado, no qual vamos unir toda a nação”.
Nesta sexta-feira (9), o presidente do Panamá, José Raúl Mulino, afirmou que Maduro poderia usar o território panamenho como uma ponte para ir a um país terceiro caso isso significasse uma transição política pacífica em Caracas.
“Se este for o sacrifício que o Panamá terá de fazer, oferecer nosso solo para que este homem e sua família possam deixar a Venezuela, o Panamá o fará sem dúvida alguma”, afirmou Mulino a CNN.
O país foi um dos sete a contestar a reeleição de Maduro -além dele, Estados Unidos, Argentina, Costa Rica, Equador, Peru e Uruguai também reconheceram o candidato opositor, o ex-diplomata Edmundo González, 74, como presidente eleito.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, o Carter Center, mais importante observador eleitoral independente no pleito, foi outro que apontou a vitória de González.
No centro do imbróglio estão as atas da votação, documentos que fazem parte do rito eleitoral venezuelano e que permitem cruzar informações sobre o total de votos computados e a quantidade de votos que cada candidato recebeu em uma determinada mesa.
O CNE (Conselho Nacional Eleitoral), controlado pelo chavismo, proclamou Maduro vencedor com 52% dos votos horas após o fechamento das urnas, mas até hoje não divulgou essas atas. A oposição, por sua vez, assegura que González venceu a eleição com 67% dos votos e apresenta como evidência cópias digitalizadas do que diz serem mais de 80% das atas.
O regime afirma que essas cópias são falsas, mas diversas organizações independentes reconhecem a autenticidade dos papéis em poder da oposição. Enquanto isso, Maduro pediu à Suprema Corte que “certifique as eleições”, um processo que a oposição e acadêmicos consideram inadequado e inconstitucional.
E a repressão a qualquer tipo de contestação ao regime segue a todo vapor nas ruas.
Também nesta sexta, a ONG Foro Penal afirmou que, desde a divulgação dos resultados eleitorais pelo regime, ao menos 1.263 pessoas foram detidas pelo regime por motivos políticos, incluindo 114 seriam adolescentes, 160 mulheres, 16 pessoas com deficiência (PcD) e 5 indígenas.
“Maduro perdeu completamente, absolutamente, a legitimidade”, afirmou María Corina à AFP. “Todos os venezuelanos e o mundo sabem que Edmundo González venceu de forma avassaladora e que Maduro pretende impor a maior fraude da história deste país. Mas ele não vai conseguir.”
“Estou profundamente orgulhosa do que fizemos, do que a sociedade venezuelana fez, superando todos os obstáculos na eleição mais desigual e arbitrária em termos de abusos e atropelos do regime”, completou.
María Corina assumiu a liderança da oposição em outubro passado, quando venceu com folga as primárias para enfrentar Maduro. Mas a sua inabilitação a concorrer a cargos políticos a impediu de disputar o pleito presidencial. González, que até então era um desconhecido, foi inscrito de última hora em seu lugar.
O candidato opositor está há mais de uma semana sem aparecer em público. “Ele está trabalhando muito duro todos os minutos do dia para obter mais apoios e avançar nos processos necessários para fazer valer sua eleição como presidente, dentro e fora do país”, disse María Corina à AFP.