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Veja a transcrição da reunião de Bolsonaro com ex-ministros que visava um suposto golpe de estado

 


Entre as principais evidências que embasaram a operação realizada nesta quinta-feira pela Polícia Federal, que teve como alvos o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados, está o vídeo de uma reunião realizada pelo então chefe do Executivo e ex-ministros, no dia 5 de julho de 2022.

O encontro é marcado por repetidas acusações sem provas de que existiriam fraudes no sistema eleitoral, alegações de que o PT teria laços com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seria bancado por dinheiro do narcotráfico, menções a “virar a mesa antes da eleição” e assumir “um pequeno risco de conturbar o país”.

A transcrição da reunião consta na decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que autorizou a abertura da operação que tem o objetivo apurar a suspeita de uma organização criminosa que teria atuado na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito no último pleito.

De acordo com o membro da Corte, a conversa “revela o arranjo de dinâmica golpista, no âmbito da alta cúpula do governo (…) no sentido de validar e amplificar a massiva desinformação e as narrativas fraudulentas sobre as eleições”.

O vídeo foi apreendido no computador do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid. Além do ex-mandatário, estavam presentes os ex-ministros Anderson Torres, (Justiça), Augusto Heleno, (Gabinete de Segurança Institucional), Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (Defesa), Mário Fernandes (então substituto da Secretaria-Geral da Presidência da República e Walter Braga Netto, (ex-Ministro Chefe da Casa Civil e candidato a vice na chapa à reeleição).

Eu acho que ele (Lula) ganha, sim
Logo no início do encontro, o então presidente aborda o risco de perder a eleição, mas o atribui a “números que estão dentro dos computadores do TSE” (Tribunal Superior Eleitoral), sugerindo a existência de uma fraude no sistema de votação brasileiro:

— A gente vê que o DataFolha continua mantendo a posição de 45% (dos votos) e, por vezes, falando que o Lula ganha no primeiro turno. Eu acho que ele ganha, sim. As pesquisas estão exatamente certas de acordo com os números que estão dentro dos computadores do TSE, né? (..) Nós vamos esperar chegar 2023, 2024, pra se foder? Depois perguntar: por que que não tomei providência lá trás? (..) Porque os ‘cara’ tão preparando tudo, pô! Para o Lula ganhar no primeiro turno, na fraude.
Bolsonaro pede ainda que os ministros de seu governo passem a também propagar a narrativa de que as eleições não seriam transparentes:

— Daqui para frente, quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui, e vou mostrar. Se o ministro não quiser falar, ele vai vir falar para mim por que é que ele não quer falar. Se apresentar onde eu estou errado, eu topo. Agora, se não tiver argumento para me demover do que eu vou mostrar, não vou querer papo com esse ministro. Está no lugar errado. Se está achando que eu vou ter 70% dos votos e vou ganhar como ganhei em 2018, (…) o cara está no lugar errado.

O ex-mandatário também diz que o encontro com os embaixadores, que aconteceu em 18 de julho, poucos dias depois da reunião, seria “para mostrar o que está acontecendo”. Na ocasião, Bolsonaro reforçou a narrativa sem provas de fraudes no sistema eleitoral brasileiro.

Outros trechos da reunião que embasou a operação da PF revelam mais alegações sem provas, como a de que líderes políticos da América Latina seriam bancados “com o dinheiro do narcotráfico”:

— Nós estamos vendo aqui (…) sobre a delação do Marcos Valério. A questão da execução do Celso Daniel. O envolvimento com o narcotráfico. Temos informações do General Carvajal lá da Venezuela, que está preso na Espanha. Ele já fez a delação premiada dele lá. Por 10 anos abasteceu com o dinheiro do narcotráfico Lula da Silva, Cristina Kirchner, Evo Morales.

Virar a mesa antes das eleições
Os ex-ministros do governo que estiveram presentes endossaram as narrativas de fraude. Augusto Heleno, que estava à frente do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) na época, chegou a dizer que “se tiver que virar a mesa é antes das eleições”:

— Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições (…) E vai chegar a um ponto que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso pra mim é muito claro.
A fala é acompanhada pelo ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que disse estar conduzindo reuniões semanais com os comandantes das Forças Armadas para avaliar “ações que poderão ser tomadas”:

— O que eu sinto nesse momento é apenas na linha de contato com o inimigo (…) Eu vejo as Forças Armadas e o Ministério da Defesa nessa linha de contato. Nós temos que intensificar e ajudar nesse sentido para que a gente não fique sozinho no processo (…) Eu estou realizando reuniões com os Comandantes de Força quase que semanalmente. Esse cenário, nós estudamos, nós trabalhamos. Nós temos reuniões pela frente, decisivas pra gente ver o que pode ser feito, que ações poderão ser tomadas para que a gente possa ter transparência, segurança, condições de auditoria e que as eleições se transcorram da forma como a gente sonha. E o senhor (Bolsonaro), com o que a gente vê no dia a dia, tenhamos o êxito de reelegê-lo, e esse é o desejo de todos nós.

Em sua fala destacada no documento, o ex-titular da pasta da Justiça, Anderson Torres, sugere ainda que a Bolívia, que dois anos antes elegeu o candidato de esquerda Luis Arce, seria um “exemplo” para o Brasil de que “todos vão se foder”:

— O exemplo da Bolívia é o grande exemplo para todos nós. Senhores, todos vão se foder! Eu quero deixar bem claro isso. Porque (…) eu quero que cada um pense no que pode fazer previamente porque todos vão se foder.

Acusação sem provas
Torres defendeu ainda, sem provas, haver uma ligação entre o PT e a facção criminosa PCC, e que iria atuar “de forma mais incisiva” em relação às eleições:

— Estamos aí, presidente, desentranhando a velha relação do PT com o PCC. (…) O diretor-geral da Polícia Federal montou um grupo de policiais federais, e agora uma equipe completa. Não só com peritos, mas com delegados, com peritos, com agentes para poder acompanhar, realmente, o passo a passo das eleições para poder fazer os questionamentos necessários que têm que ser feitos e não só as observações. ( … ) A gente vai atuar de uma forma mais incisiva. Já estamos atuando. Mas eu acho que o mais importante é cada um entender o momento agora e as colocações que a gente deve fazer.

Outra manifestação que chama atenção no documento é a do então substituto da Secretaria-Geral da Presidência da República, general Mário Fernandes, ao falar em cobrar um prazo para que o TSE autorize o acompanhamento das eleições pelos Três Poderes. Caso isso não acontecesse, cita a necessidade de pensarem numa “segunda alternativa” que poderia “assumir um pequeno risco de conturbar o país”.

— Tem que acontecer antes, como nós queremos, dentro de um estado de normalidade. Mas é muito melhor assumir um pequeno risco de conturbar o país pensando assim, para que aconteça antes, do que assumir um risco muito maior de conturbação no ‘the day after’, né? Quando a fotografia lá for de quem a fraude determinar — disse Fernandes.

Da Redação

Do Portal Umari

Com Folha de Pernambuco

Créditos: Polêmica Paraíba

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