A decisão do desembargador Ricardo Vital de Almeida, publicada nesta sexta-feira (17) com a ordem de prisão do padre Egídio e de duas ex-funcionárias do Hospital Padre Zé, mostra detalhes surpreendentes sobre a atuação do religioso e das ex-integrantes da equipe gestora da unidade hospitalar. Os cheques de altos valores assinados pelo padre e por Amanda estão entre os detalhes apresentados na decisão.
Segundo o Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público da Paraíba, a contadora disse em depoimento que "todas as operacionalizações financeiras eram feitas de modo a dificultar o caminho do dinheiro."
Cheques
Ela contou que "os ordenadores de despesas (pessoas que assinavam os cheques) eram Egídio e Amanda e que na sua maioria das vezes eram feitos cheques de altos valores (entre R$ 50.000,00 e R$ 200.000,00) para que fossem sacados em dinheiro, na boca do caixa. Nesse mecanismo financeiro, o cheque sacado era intitulado como a primeira saída de caixa, enquanto o valor em espécie (sacado) era a entrada de caixa. Entretanto, pelos relatórios de contabilidade, não se foi possível constatar para onde ou para quem foram esses valores sacados em espécie das contas do Instituto São José [que mantém o Hospital Padre Zé]. Ou seja, os representados adotavam esse modus operandi justamente para dificultar o paper trail."
Ainda segundo declarou o desembargador Ricardo Vital, sobre o relato do Gaeco, "na trilha do que foi dito pela contadora Raquel, EGÍDIO e AMANDA realizavam saques em cheques na 'boca do caixa', tendo acesso ao dinheiro em espécie que deveria ser utilizado no HPZ. Referidos numerários, apesar de sacados, ainda 'pertenciam' ao HPZ e entravam na contabilidade da Instituição como 'entrada de caixa', cuja saída raras vezes era justificada ou informada por EGIDIO e AMANDA. Tanto é que, conforme já dito, houve a necessidade de se criar uma nomenclatura na contabilidade (côngruas e espatulas) para que o valor não ficasse sem justificativa."
A decisão mostra, também, que "isso tudo sem falar das ajudas de custo remetidas "à diretoria" para o pagamento do Imposto de Renda Pessoa Física de Egídio, na casa dos R$ 15.000,00. Exercendo o domínio do fato e atuando de forma direta, EGÍDIO, representando o HPZ, firmou inúmeros convênios com a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Humano para a execução de Planos de Trabalhos Específicos, cujos processos, conforme depoimentos colhidos do corpo administrativo do Hospital, já chegavam montados e prontos, havendo constante pressão para que os servidores assinassem e carimbassem os documentos, sem a análise do objetivo. Ao assim agir por aproximadamente uma década, criando um verdadeiro escape de dinheiro das contas do HPZ, EGÍDIO enriqueceu-se ilicitamente às custas dos cofres públicos e, em última análise, da própria sociedade hipervulnerável desta localidade."
Patrimônio com o dinheiro do Hospital Padre Zé
O Gaeco aponta que foram adquiridos "imóveis (29) ao total — até o momento — nos Estados da Paraíba, Pernambuco e São Paulo, TODOS de elevadíssimo padrão de construção e perdulário orquestração de pisos, iluminação e decoração. Há registro de dois carros de luxo, bem como um semnúmero de garrafa e bebidas alcoólicas que superam a média de mil reais por garrafa."
Prisão do padre e das ex-funcionárias do Hospital Padre Zé
O padre Egídio de Carvalho e as ex-funcionárias Amanda Duarte e Jannyne Dantas foram presos nesta sexta-feira pela Polícia Civil porque a Justiça entendeu que os investigados estavam atuando para destruir provas e obstruir a investigação. O padre foi encaminhado a presídio especial. Amanda teve prisão preventiva convertida em prisão domiciliar por ter um filho de quatro meses. E Jannyne Dantas também teve a prisão mantida e foi encaminhada ao Presídio Feminino Júlia Maranhão, também em João Pessoa.
Saiba mais
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Da Redação
Do Portal Umari
Com Click PB