O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino,
demonstra ter cada vez mais certeza da solução de um dos crimes mais
emblemáticos da história recente do Brasil, o assassinato da ex-vereadora do
Rio de Janeiro Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, na noite de 14
de março de 2018.
Em entrevista exclusiva concedida à Agência Pública no fim
de junho em Brasília, ele trata o caso com o que definiu como “otimismo moderado”,
em decorrência do tempo passado após o crime e da destruição de provas.
Cauteloso e sem adiantar informações da investigação sigilosa, Dino garantiu
ter “novidades” sobre o caso e disse: “Acredito que vamos chegar a uma solução
do crime”.
O ministro tratou também de diversos temas ao longo da
entrevista, como narcogarimpo, policiamento da Amazônia, extremismo político e
violência em escolas. Sobre a inelegibilidade do ex-presidente da República
Jair Bolsonaro, ele diz que foi uma ação firme do Judiciário para interromper a
onda de ataques ao sistema eleitoral, mas, realista, diz que ainda é cedo para
se considerar controlada a sanha golpista contra a democracia. “Há uma luz
amarela no semáforo da história: o extremismo político está vivo”.
“Deixar [Bolsonaro] inelegível é muito importante, porque
ele é um facínora, mas é suficiente? Não. O extremismo político ainda encontra
raízes muito fortes no Brasil: o vemos na cultura do ódio, da desinformação, do
preconceito e da violência”, ressalta.
Passados mais de seis meses da invasão do Palácio do
Planalto, Congresso e Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro diz que a
“personalidade despótica, autoritária e patológica de Bolsonaro” une os
atentados promovidos entre o resultado da eleição, em 30 de outubro passado, ao
caos do 8 de janeiro. Para Dino, não há dúvidas de que o ex-presidente está no
centro da tentativa de golpe.
“Havia o ajudante de ordens [Mauro Cid], o ex-ministro
Anderson Torres, outras pessoas muito ligadas a ele. É possível inferir, também
por sua personalidade despótica, autoritária, que de algum modo ele orientava –
ou que pelo menos compactuava, autorizava”, afirma o ministro, que ainda define
o ex-presidente como “um golpista fracassado”.
Para o ministro, o atentado de 8 de janeiro serviria para
criar um clima de instabilidade política e anomia institucional, forçando a
cúpula militar a aderir ao golpismo. “A ideia deles era que o 8 de janeiro
fosse um estopim, com efeito dominó em outras manifestações ao longo do Brasil,
para tentar mostrar que o novo governo não tinha condições de gerir o país”,
afirma.
Segundo Dino, ao sair da eleição com 49% dos votos,
Bolsonaro tinha “uma base social razoável”, mas não o apoio internacional nem
da elite empresarial brasileira – condições que, em 1964, permitiram aos
militares depor o ex-presidente João Goulart. “Daqui muitos anos, quando forem
abertos os arquivos de 2022 do governo dos Estados Unidos, vão encontrar o que
levou as Forças Armadas a não se engajarem no golpe”, disse o ministro.
Flávio Dino garantiu que o governo vai fortalecer sua
presença na Amazônia, com a criação de uma companhia de policiamento ambiental,
formada por mais de mil homens da Força Nacional, cuja finalidade é fiscalizar,
intensificar operações e combater as organizações criminosas de inspiração
mafiosa – que, segundo o ministro, se infiltraram na política, nos garimpos e
demais atividades ilegais que cresceram no vácuo de fiscalização deixado pelo
governo Bolsonaro.
Dino assegurou que o governo Lula retomará as demarcações de
terras indígenas, interrompidas por Bolsonaro, por meio de decisões conjuntas
entre os ministérios dos Povos Indígenas, da Justiça e Segurança Pública e da
Casa Civil.
Contra o marco temporal defendido pelos ruralistas, o
ministro se alinha à ideia do ministro do STF Alexandre de Moraes, que,
independentemente do que o Congresso decidir, sinalizou uma solução
intermediária ao conflito – sem marco, mas respeitando a peculiaridade de
regiões densamente habitadas, como cidades consolidadas.
Da Redação
Do Portal Umari
Com DCM