A professora Silvana Santos, geneticista da UEPB, explica que o foco de interesse da pesquisa são os casos de gêmeos discordantes para a microcefalia. Apesar de ambos os fetos terem tido contato com o zika vírus ao longo do seu desenvolvimento, um deles nasceu com microcefalia enquanto o outro não. Essa discordância reflete alguma diferença genética entre os indivíduos que protege, por assim dizer, o cérebro do ataque do vírus.
Para identificar essas variantes genéticas protetoras, os pesquisadores da UEPB, em parceria com outros da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e outras instituições do Nordeste, realizaram a coleta de material biológico envolvendo mais de 60 crianças com microcefalia e casais de gêmeos. Na Paraíba, as ações de pesquisa foram realizadas na Fundação de Apoio à Pessoa com Deficiência (FUNAD), em João Pessoa.
Thalita Figueiredo, pós-doutoranda do Mestrado em Saúde Pública da UEPB, que também participa da pesquisa, explica que a partir das amostras de sangue coletadas serão desenvolvidas células em laboratório (células iPS). Com isso, será possível estudar as diferenças em relação às sequências dos genes, como também diferentes padrões de metilação do DNA e de expressão dos genes, ou seja, se alguns genes estão inativos ou mais ativos em quem desenvolveu microcefalia quando comparados aos indivíduos que não foram afetados pelo vírus.
Por se tratar de uma condição relativamente rara, com incidência estimada em 1 em 250.000 na Holanda, a elevada incidência de bebês com microcefalia no Nordeste brasileiro tem chamado a atenção de pesquisadores de todo o mundo. Os indivíduos com microcefalia apresentam um cérebro de tamanho reduzido, o que acaba causando perda de sua capacidade cognitiva.
A microcefalia pode ser primária, causada por alterações em genes, ou secundária, quando está associada à infecção de vírus, como o zika ou citomegalovírus. As infecções durante a gestação ativam diversos processos de inflamação e levam a morte das células atingidas, o que explica em parte o efeito teratogênico desses vírus. Entretanto, há uma grande variação de respostas aos agentes virais, devido à diversidade genética dos seres humanos. Por isso, a suscetibilidade das crianças ao vírus pode variar dependendo das variantes presentes no seu genoma.
O trabalho de laboratório será desenvolvido por Uirá Souto Melo, ex-aluno do curso de Ciências Biológicas da UEPB que está fazendo seu doutorado na USP. Mais informações sobre esse trabalho de pesquisa podem ser obtidas no blog do Núcleo de Estudos em Genética e Educação da UEPB, através do link www.geneticanosertao.blogspot.com.
Da Redação
Com PB Agora