Segundo o professor, que leciona na UFCG e em uma faculdade particular as disciplinas de Projetos e Planejamento Urbano, a ideia inicial da pesquisa foi fazer um levantamento de dados da demanda de água para o bairro do Catolé, ou seja, quanta água aquela área do município consome. O bairro foi escolhido pelo fato de que ele vem sofrendo transformações demográficas nos últimos anos, com a construção de muitos prédios, tornando-se o bairro com a segunda maior densidade populacional de Campina Grande, perdendo apenas para o Pedregal, na Zona Oeste, pois as edificações concentram grande população em um espaço limitado.
Foi observado que a demanda por água no bairro pode crescer bastante caso a população siga aumentando nas proporções atuais. Foi avaliado que, em 2010, o consumo diário no bairro foi de pouco mais de 5 milhões de litros. Para 2020, foi estimado o uso de cerca de 7 milhões de litros e, em 2040, 8 milhões.
A pesquisa, desenvolvida durante a realização do mestrado de Marcelo Barros, entre 2011 e 2013, indicou, observando-se obras de 23 edifícios do bairro, que os mais de 80% de economia, conforme citado acima, seriam atingidos por mecanismos poupadores como torneira com arejador, chuveiro com redutor de pressão, bacia sanitária com acionamento duplo, medidores individuais para cada unidade habitacional e reuso de águas cinzas (água utilizada em torneiras e chuveiros em geral das residências, excluindo-se a água usada em vasos sanitários).
“Vimos que só a substituição dos equipamentos desses 23 prédios já poderia representar para o bairro uma economia de 10,42% por dia, mesmo com o restante do bairro sem se adaptar”, revelou o professor, que, militando pela colocação em prática dos resultados favoráveis do estudo, teve a oportunidade de levar a pesquisa para a Secretaria de Obras de Campina Grande, no intuito de incluir os novos aspectos no Código de Obras do município, que à época estava sendo votado, mas os parâmetros sugeridos não foram acatados pelo poder público. O pesquisador, no entanto, não desanima: “Está sendo feita uma comissão para elaborar o Plano Diretor do município. Podemos levar o estudo novamente para uma avaliação”.
Marcelo explica que uma forma de incentivar os construtores a instalar os novos equipamentos que, conforme procurou evidenciar, não prejudicam a ‘potência’ hídrica dos suportes já existentes, seria um desconto dado pela gestão municipal no momento em que é requerida a licença de aprovação do imóvel, da qual é cobrada uma taxa. Para isso, a pesquisa dividiu as construções adaptadas em três categorias: A, B e C. Confira abaixo os detalhes de cada uma.
A – Substituição de equipamentos com menor custo: torneiras, chuveiros, vasos sanitários e medidores individuais.
B – Custo intermediário: Toda a categoria A, mais o aproveitamento de água da chuva, com a construção de cisternas com sistema de bombeamento, além de estrutura de captação pelo telhado através de calhas.
C – Maior custo: Categoria A, mais a B, mais o reuso das águas cinzas, que pode ser feito a partir do incremento de uma mini estação de tratamento, que pode ser instalada durante a construção do prédio, promovendo a filtragem e eliminação de matéria orgânica, proporcionando água para uso em lavagens de terraços, carros e regar plantas, por exemplo. Nesta categoria mais avançada seria possível a economia de 83,26%.
“Os investimentos são retornados com o tempo, através da economia de água. Porém, uma dificuldade que vemos é que há resistência por parte das empreiteiras, pois o construtor gasta mais, mas o consumidor final que se aproveita do gasto menor”, afirmou Marcelo Barros, retomando a ideia de que um desconto progressivo fosse dado de acordo com a categoria do empreendimento (A, B ou C). Ele ressalta também, como forma de convencimento, que a divulgação de edifícios menos agressivos ecologicamente poderia ser uma boa estratégia de marketing para as empresas, atraindo os consumidores para esse novo estilo de habitação.
Diante da dificuldade pela qual passa o Brasil no fornecimento de água para a população, sobretudo na Região Nordeste, que vive longos períodos de estiagem, Marcelo, que admitiu que o interesse dele nessa linha de pesquisa ocorreu em virtude dessa realidade, disse que muitos desses equipamentos ‘poupadores’ podem ser adquiridos no mercado e que há diferentes marcas e valores. As substituições graduais, principalmente em torneiras e chuveiros, também sendo instalados filtros simples, podem gerar boa economia para o consumidor doméstico e empresarial.
“A gente tem o costume de não reconhecer a água, principalmente no planejamento urbano. Vivemos em uma região extremamente seca, onde a ocorrência de chuvas é pontual, em um determinado período do ano. Temos que estar preparados para essa realidade”, concluiu o professor, graduado na Universidade Federal da Paraíba e atuante há cerca de 10 anos no mercado da arquitetura, sobretudo em edifícios verticais.
Fonte:Portal Correio